terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Último Emprego


      Enquanto os outros desempenham suas funções com dedicação, o último encargo ainda está a se determinar. O contratante não tem pressa. Bem no fundo ele ainda acredita que o próprio ser humano, num ato de auto-reflexão, irá resgatar os princípios retirados de circulação.

     Que na verdade nunca existiram.
     A vacância continua. Como se trata de um trabalho imprescindível, trabalhadores temporários tentam cobrir a função com o maior empenho possível, se desdobrando durante dia e noite, sem pausa para pensar ou questionar, só executar. Onde houver miséria e violência eles estarão lá, trajados de preto e com a foice em punho, esperando o último sopro de vida. Com honra, todos abraçam temporariamente o ofício, a espera do seu líder.
     Eis que surge o candidato perfeito. Portador de olhar negro, opaco. Daqueles que não se consegue enxergar nada além do que é visto. Um ser sem passado. 
     Ele se apresenta como o detentor da função, e diz que nasceu na certeza de que em morte faria isso.
– Vais levar com a vida a certeza da morte eterna – diz o Contratante.
     Empregador e empregado caminham em passos curtos e tímidos. A empolgação de se conhecerem é como a de um marido que contrata um detetive para vigiar a esposa infiel. Nenhuma. Ao fim da caminhada, tudo é explicado com detalhes ao primeiro e último capitão.
– Toma teu cavalo, cavaleiro - ainda tímido, com a voz baixa.
     Ele já sabia o que estava acontecendo, mas precisava ver com os próprios olhos, que a terra não há de comer.
     O cavaleiro franze a testa ao olhar pra o animal. Ele era esverdeado, cor de cadáver, e com cheiro fétido. Era o único que sobrara, pois outros três cavaleiros já estavam em posse de três outros cavalos. No ato da montaria, sua pele começa a se evaporar, sumindo aos seus olhos. Em instantes, cavaleiro e cavalo eram apenas ossos e foice. O capitão com expressão de dúvida já resolvida, espora seu cavalo, guiando o animal portão a fora. O chefe, de cabeça baixa, deixa escapar um “ainda não...”

     Contenção dita em voz muito baixa para quem não ouviria nada mais, além do silêncio da morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário