terça-feira, 19 de novembro de 2013

VÍCIO


Por que esse vício
De ir embora quando acordo?
Pois agora eu quero sentir
O roçar dos nossos ossos
Expostos pela fricção da pele seca.

Por que me dizer
Que teu perfume funciona?
Pois agora eu quero cheirar
O azedo que te escapa a pele
E apodrecer minha narina farejando teu azedume.

Por que piscar e comentar
Se alguém te olha?
Pois agora eu quero ver
O mesmo palpite de sua boca
Pulsando fora o sangue de minhas veias.

Por que atender as ligações
Longe de mim?
Pois agora eu quero ouvir
O som da tua trapaça
Ecoando nesse tímpano ultrapassado.

Por que não me beija
Quando estou suado?
Pois agora eu quero provar
O amargo desse suor negro
Infectar essa língua virgem de deleites.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

ANTICORPO



   Um anticorpo tem suas prioridades, e uma delas é descartar o corpo, de toda forma, e por completo. É um combate diário contra sua natureza, pois as células que o compõem almejam mais que tudo o sabor da carne que lhe invade. 
   O deleite físico ainda rende na sua memória miúda, e traz à noite uma chuva de empecilhos, por isso, a seita do anticorpo verá além de um cafetão, e será o tempo remanescente para se concluir a mudança. 
   Vai ser avisado que uma única transgressão anulará o trabalho de putrefação do corpo, não cabendo opções, aos olhos da cabeça, enxergar outra coisa além da empatia intelectual ou moral através da carcaça alheia. É um tanto duro, mas nada comparado com a severidade que era sua antiga vida primitiva.

   Ponteio e desejo-lhe sorte nessa jornada de desmistificação do corpo carne.


Afiliado(a): Rosemarie Dos Santos Costa
Antiga Profissão: Prostituta
Idade: 36 anos


INSCRIÇÃO CONCEDIDA.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Olho que Decanta




   Tua felicidade é como chuva em terreno descampado, me encharca para onde quer que eu vá.

Se antes tinha pouca para viver, hoje tenho felicidade para duas vidas.
   Mas não se chateie quando me vir derramando minha felicidade pelos cantos, pois olhos muito alegres são incapazes de ver a falsidade de falsos felizes.
   E em uma parceria, “euguém” precisa ser duro para se prender a melhor realidade e outrem ser puro, para que livre, sonhe pelos dois.